fbpx
Home Autoconhecimento O que é Autoconhecimento: O Guia Absoluto

O que é Autoconhecimento: O Guia Absoluto

Escrito por Felipe Cotrim 06/03/2020
O que é Autoconhecimento: O Guia Absoluto

O comando “conhece-te a ti mesmo” foi encontrado pela primeira vez no século 8 AC dentro do Templo de Apolo numa cidade Grega chamada Delfos, localizada a norte de Atenas. E desde então, filósofos, psicólogos e pensadores se baseiam nela para viver, e se referem a ela como um um dos maiores ensinamentos que existem.

Mas o que essa frase aparentemente simplória quer dizer? O que é, de fato, autoconhecimento?

“A vida não examinada não vale a pena ser vivida”

Sócrates

Fazia tempo que eu queria oferecer um conteúdo bastante completo e confiável sobre esse tema crucial para uma vida plena e autêntica. Afinal, esse é o assunto principal deste Blog.

Mas para entender um tema com quase 3 mil anos de idade (que se saiba), dizer apenas que é o “conhecimento de si próprio” é totalmente insuficiente, ou seja, o dicionário não serve. O que eu quero é justamente responder: o que significa conhecer a si próprio? O que há dentro desse universo?

A Enciclopédia de Filosofia de Stanford diz que autoconhecimento é “o conhecimento das próprias sensações, pensamentos, crenças e outros estados mentais”. Em outras palavras, é MUITO conhecimento. Quantas sensações, pensamentos e estados mentais não temos todos os dias e todos os minutos?

É por isso que autoconhecimento é tarefa para a vida toda. Passaremos uma vida inteira aprendendo como funcionamos e nunca saberemos tudo. Passaremos uma vida toda entendendo como nos encaixamos melhor no mundo e nunca saberemos tudo. E quer saber? Tudo bem, não tem problema. Mesmo sem saber tudo o que se passa dentro de nós, podemos saber suficientemente bem para navegar melhor nas ondas da vida.

“Nós não podemos controlar o mar, mas podemos aprender a surfar as ondas”

Headspace App

Você concorda que um dos investimentos mais importantes de uma construtora de imóveis é a fundação do edifício? Na nossa vida pessoal é parecido, autoconhecimento é a nossa base. Subir um prédio sem uma base forte não dá certo. Ou seja, se conhecer é um pré-requisito para viver a vida.

É uma afirmação bastante forte, mas é fácil encontrar evidências de que isso é verdade ao longo da história. Desde o período dos filósofos gregos e do Renascimento, até o Iluminismo e o mundo contemporâneo.

Então, antes de entendermos o que compõe o universo do autoconhecimento, por que será que esse conceito tem tanto valor?

1. A IMPORTÂNCIA DE SE CONHECER BEM

autoconhecimento, felipe cotrim
Foto by Patrick Fore

Sem um destino claro, nem o motorista mais eficiente do mundo vai saber chegar.

Como alguém espera tomar boas decisões para a própria vida sem saber o que quer? Como alguém espera alcançar sucesso sem criar uma própria definição de sucesso? Como alguém espera ter mais autoconfiança se não sabe onde se apoiar internamente?

Em outras palavras, um motorista pode ser habilidoso e rápido, mas nada disso adianta sem um norte. O mesmo raciocínio se aplica a um prédio, ele pode ser alto e bonito, mas sem uma base bem feita, ele é inseguro. E nós, seres humanos, também precisamos de uma base e um norte.

Eu ouvi da boca do Alain de Botton em Londres duas coisas interessantes sobre o valor do autoconhecimento. E pelo tom dele, está nesses 2 fatores a grande importância do conceito para as nossas vidas. A primeira é que se conhecer significa tomar decisões melhores. A segunda é que se conhecer significa vida autêntica.

Aliás, há um movimento recente sobre sermos a nossa melhor versão, já viu isso? Digamos, então, que se conhecer é o primeiro passo para isso acontecer. Afinal, como vamos ser a nossa melhor versão se não sabemos que versão é essa?

“As vitórias particulares precedem as vitórias públicas”

Stephen Covey

Em resumo, autoconhecimento eficaz ajuda a tomar decisões melhores, a ter clareza sobre seus objetivos de vida, a ter mais confiança, e a ser mais autêntico.

Ainda que se conhecer seja tarefa de uma vida inteira, os fundamentos deviam ser ensinados na escola, pois sem vitória particular, não há vitória pública genuína.

Dito isso, agora sim posso começar a explicar o que é autoconhecimento, mas começando pelo seu extremo oposto: a autoignorância.

2. O OPOSTO DO AUTOCONHECIMENTO: AUTOIGNORÂNCIA

Qualquer um sabe coisas básicas sobre si: o próprio nome, que dia nasceu, e o que gosta de comer, por exemplo. Ou seja, ninguém é 100% autoignorante. Mas fora isso, é um pouco frustrante perceber o quanto o nosso interior é obscuro e vago. É frustrante perceber a dificuldade de ser menos autoignorante.

É mais ou menos assim, todos os fatos que temos consciência são apenas a pontinha do iceberg. Por baixo da superfície da água, há uma rocha gigante de memórias, histórias, sentimentos, emoções, dores e alegrias. Sendo assim, autoignorância significa ficar apenas acima da superfície e nunca mergulhar nas profundidades do seu iceberg.

Portanto, podemos dizer que se afastar da autoignorância é tornar todo esse inconsciente consciente. Afinal, permanecer ignorante tem um preço muito alto.

Não entender como funcionamos, por exemplo, pode resultar em terminar um relacionamento sem saber por que, em aceitar um emprego que você no fundo não gosta tanto, em mudar para uma cidade que não favorece seu momento de vida atual.

“Sucesso na vida depende de saber quem realmente somos”

Deepak Chopra

A missão de mergulhar no nosso interior e de transformar inconsciente em consciente é dura, pois a nossa mente é craque em desviar nosso foco de coisas dolorosas e em esconder pistas importantes.

Além disso, a missão também requer coragem. Ninguém gosta de lembrar da separação dos pais, da doença do irmão mais novo, daquele antigo sentimento de abandono, e de uma briga traumática com alguém que costumávamos admirar. Mas é mergulhando nas nossas profundezas que vamos genuinamente nos conhecer melhor.

O que, enfim, significa se conhecer?

3. A ANATOMIA-BASE: OS 7 PILARES DO AUTOCONHECIMENTO

pilares do autoconhecimento, tasha eurich
– Foto by Priscilla Du Preez

Não é fácil desconstruir e explicar um conceito com quase 3 mil anos, mas tenho um bom ponto de partida: a Dra. Tasha Eurich.

Eurich é uma pesquisadora e consultora americana que publicou em 2017 um livro excelente chamado Insight, onde ela conta sua jornada de 4 anos pesquisando exclusivamente autoconhecimento.

A perspectiva dela sobre o assunto é muito rica e merece a nossa melhor atenção, pois juntamente com sua equipe, ela enviou questionários e coletou respostas de milhares de pessoas ao redor do mundo, analisou quase 800 estudos científicos, e conduziu entrevistas profundas com dezenas de pessoas.

DEFINIÇÃO: OS 2 TIPOS DE AUTOCONHECIMENTO

Ainda no começo do livro ela solta uma definição sucinta sobre autoconhecimento: 

“Autoconhecimento é, em essência, a habilidade de enxergar claramente quem somos nós – entender quem somos, como os outros nos veem, e como nos encaixamos no mundo”.

Entretanto, Eurich diz que a habilidade de se conhecer bem é bastante rara. Para a maioria das pessoas, é mais fácil permanecer autoignorante do que encarar a verdade nua e crua.

Enfim, depois de notar diversas definições conflitantes, Eurich e equipe observaram 2 principais categorias dentro de autoconhecimento, estranhamente não relacionadas.

AUTOCONHECIMENTO INTERNO quer dizer se enxergar claramente. Entender seus próprios valores, paixões, aspirações, ambientes, padrões, reações, e impacto nos outros.

Pessoas com alto autoconhecimento interno tomam decisões consistentes com quem realmente são, possibilitando vidas mais felizes e satisfatórias. Pessoas com baixo autoconhecimento interno, agem de modo incompatível com suas definições de sucesso e felicidade.

AUTOCONHECIMENTO EXTERNO significa entender-se de fora para dentro. Isto é, saber como as outras pessoas te veem.

Pessoas com alto autoconhecimento externo constroem relacionamentos mais fortes e confiáveis, pois justamente enxergam pela perspectiva dos outros. Pessoas com baixo autoconhecimento externo são surpreendidas pelo feedback dos outros justamente por serem totalmente desconectadas da imagem que transparecem.

“Autoconhecimento é a meta-competência do século 21”

Tasha Eurich

Sendo assim, o ponto central da Dra. Eurich é simples, para sermos verdadeiramente autoconscientes, precisamos nos entender e também entender como os outros nos veem. A boa notícia é que autoconhecimento é uma habilidade que pode ser desenvolvida.

OS 7 PILARES DO AUTOCONHECIMENTO

Por fim, aqui estão eles:

1) VALORES

O primeiro pilar. E não por acaso. O que você essencialmente valoriza? Entender os nossos valores é como ter um guia que nos ajuda a viver. E desenvolver princípios a partir dos nossos valores torna esse guia ainda mais prático e nossas decisões muito mais fáceis. Além disso, são os valores que irão abrir caminho para o restante dos pilares.

2) PAIXÕES

Mais do que um mero interesse, paixão é algo que você ama executar, que seria capaz de pagar para fazer. Esse é um pilar importante do autoconhecimento, pois irá alinhar escolhas durante a vida. O que te faria pular da cama de manhã? O que te faz perder a noção do tempo? Que atividades você adorava fazer quando criança?

3) ASPIRAÇÕES

Uma aspiração é um grande objetivo. Poderíamos usar também o termo missão, ou um ainda mais popular atualmente: propósito. Diferente de um objetivo, uma aspiração nunca é totalmente alcançável, uma aspiração funciona como uma estrela-guia, um norte. O que você quer alcançar na vida? Que contribuição, acima de todas as outras, você quer dar para o mundo?

4) AMBIENTES

Parte fundamental de se conhecer é identificar em quais ambientes você se encaixa melhor. Que ambientes te deixam feliz e engajado? Parece besteira pensar sobre esse tipo de coisa, mas ter respostas claras nesse pilar nos ajudam a tomar grandes decisões de vida: qual cidade morar, que ambiente empresarial escolher, que ambiente familiar construir, e que meios evitar. Por exemplo, algumas pessoas se sentem mais confortáveis numa biblioteca e em casa, outras podem preferir lugares abertos, parques e contato com a natureza. Para outros, locais de maior estímulo e socialização são fundamentais.

5) PADRÕES

Em outras palavras, a nossa personalidade. Entender a nossa personalidade pode ser trabalho de uma vida toda. Mesmo com a ajuda de testes da internet e questionários científicos, algumas nuances parecem difíceis de captar. E isso é natural. Mas ter uma visão clara da nossa personalidade é essencial para entendermos quem somos. Susan Cain, pesquisadora e autora americana, diz que o eixo principal da nossa personalidade é a escala introversão-extroversão. Esse pode ser um bom ponto de partida.

6) REAÇÕES

Reações são os nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos de acordo com as situações. Essas reações são frequentemente reflexo das nossas forças e fraquezas. Talvez a pergunta mais clássica (e mais chata?) de uma entrevista de emprego: quais seus 3 pontos mais fortes e mais fracos?

7) IMPACTO

O último pilar da anatomia-base do autoconhecimento é um ponto cego para muitas pessoas, qual o nosso impacto nos outros? Você sabe a impressão que os outros têm de você? Autoconhecimento não é apenas uma jornada de introspecção, mas de extrospecção também. Afinal, nós não nos conhecemos de fora, só de dentro, por isso o pilar do impacto é fundamental para complementar a nossa visão sobre nós.

Se você está pensando em COMO desenvolver cada um desses pilares, a verdade é que cada um é uma verdadeira ciência.

Meu grande objetivo é tornar tudo isso muito simples de entender e praticar. No entanto, responder o “como” seria impossível com 1 único artigo. Esse é o objetivo do Blog como um todo. Essa é a intenção de cada dos meus artigos, ebooks, e da Sexta 3 em 1, uma newsletter que acredita em menos velocidade e mais direção.

4. A ANATOMIA PROFUNDA: OS 9 COMPONENTES DO AUTOCONHECIMENTO

Eu diria que os 7 pilares citados acima são um arsenal de base. Isto é, o bom entendimento deles já significa que você se conhece bem, talvez melhor do que muitas pessoas a sua volta.

Mas para um entendimento completo e profundo de quem somos, eu gosto da abordagem da The School of Life, uma escola inglesa que se baseia em Filosofia, Psicologia e Cultura, e, portanto fundamenta seus argumentos em grandes pensadores e grandes obras da humanidade.

Num recente livro deles chamado Who Am I? (Quem Sou Eu?), autoconhecimento foi dividido em 9 componentes diferentes dos que costumamos ver por aí. Mas também de uma maneira bem mais aplicada ao que se parece o nosso real cotidiano. Os 9 componentes são: psicologia, relacionamentos, sexo, outras pessoas, trabalho, utopia, cultura, tristeza & compaixão, e reencantamento.

Enquanto os 7 pilares de Eurich parecem algo mais “entrevista de emprego” ou “negócios”, os 9 componentes parecem bem mais “vida real”. Não estou tirando o mérito da Dra. Eurich, eu acredito totalmente na abordagem dos 7 pilares e muito do que ela fala está presente no meu trabalho. 

Por isso, acho essas duas visões (Tasha Eurich + The School of Life) surpreendentemente complementares. Enquanto os 7 pilares trazem muito rigor científico, os 9 componentes trazem sensibilidade e empatia incomuns. Enquanto os 7 pilares trazem pragmatismo, os 9 componentes trazem a profundidade de verdadeiras sessões de terapia. 

OS 9 COMPONENTES DO AUTOCONHECIMENTO

1) PSICOLOGIA

Esse primeiro componente, até pelo nome, parece uma clássica sessão de terapia. Ele busca entender desde o cenário antes de você nascer, até o contexto que você nasceu, e ainda diversas memórias e pistas da sua infância. E com base nisso, como acabamos projetando no presente o que aconteceu no passado, como é a sua voz interior, como você lida com amor próprio, raiva, confiança, e até quais são seus possíveis vícios. Aqui estão 3 rodadas de perguntas do livro (são 22 só nesta seção):

  • Como era sua mãe adolescente? E seu pai? Imagine-os com os seus pais e as suas mães, qual deve ter sido a atmosfera emocional? Em que canto de mundo você veio parar e como isso pode ter te marcado? Como era, em detalhes, seu quarto de criança? Quais eram os melhores momentos do dia lá?
  • Complete as frases: O que eu realmente mereço é… Homens são todos… Mulheres quase sempre… Lá no fundo, eu acho que sou… Quando alguém me desaponta, eu… 
  • Quanto você gosta de você? Quem te ensinou a ser gentil consigo mesmo? Quem te ensinou a suspeitar e a atacar a si mesmo?
anatomia do autoconhecimento, the school of life
– Foto by Joshua Newton

Bem, não é uma seção fácil, ela requer um mergulho no passado, que invariavelmente significa encontrar memórias muito boas e também muito ruins. Enfim, muitas das ideias de Sigmund Freud podem estar abertas para questionamento, mas uma parece firme como rocha: visitar a nossa infância é crucial para saber quem somos.

2) RELACIONAMENTOS

Relacionamentos são uma grande parte da nossa vida e consequentemente oferecem importantes lições sobre quem somos, mas é incrível como podemos passar anos sem aprender nada com eles.

Esse segundo componente quer que você entenda como o relacionamento dos seus pais moldou sua visão sobre relacionamentos, por quais tipos de características não saudáveis você é atraído, estilo dependente versus estilo independente, e dificuldades recorrentes. Trazer à luz desejos profundos e também as pequenas coisas do dia a dia. Sobre se desculpar e sobre desejar mudança de comportamento.

3) SEXO

Pode ser incômodo e estranho refletir sobre isso para algumas pessoas, mas está aí uma peça-chave dos nossos relacionamentos, que infelizmente e possivelmente é a menos falada e entendida.

Essa seção quer elucidar suas fantasias e preocupações com sexo, explorar maneiras de explicar desejos estranhos para parceiros, e como seus comportamentos podem estar totalmente ligados à sua personalidade e experiências passadas.

4) OUTRAS PESSOAS

Bom, não estamos sozinhos no mundo, temos amigos, parceiros, filhos, colegas de trabalho, vizinhos, estranhos, etc. Logo, conviver é necessário. A importância do autoconhecimento não é apenas para nós próprios, mas para os outros também. Todos somos belos e estranhos de uma maneira única, e quando nos conhecemos melhor, sabemos explicar para os outros a nossa maneira única de ser. 

5) TRABALHO

Outra grande parte da nossa vida é o trabalho. Logo, situações, ambições, inveja, procrastinação, colegas oferecem boas oportunidade para nos conhecermos melhor. Esse componente procura entender como as expectativas dos nossos pais nos influenciam, qual seria o seu trabalho ideal num mundo ideal, a diferença entre evolução e revolução, síndrome do impostor, e variedades de sucesso.

6) UTOPIA

O sexto componente da anatomia do autoconhecimento para a The School of Life é Utopia. Podemos achar besteira pensar sobre essas fantasias. Mas entender a melhor versão de alguns assuntos nos deixa em contato com partes interessantes da nossa mente. Por exemplo, o que seria uma casa ideal para você? E uma viagem de férias ideal? Vida social utópica, casamento utópico? Vale pensar até temas maiores, como seria a cidade ideal ou o sistema de educação ideal? No final, todas essas informações refletem bastante quem você é.

7) CULTURA

Cultura diz muito sobre nós. Saber, por exemplo, que tipos de livros buscar ao entrar numa livraria é sinal de autoconhecimento. O mesmo vale para todos os elementos culturais: pinturas, esculturas, filmes, música, construções, roupas, peças de mobília e etc. Qual o seu gosto? O que atrai o seu olhar? Por que será?

8) TRISTEZA E COMPAIXÃO

Apesar de parecer estranho pensar propositalmente sobre as nossas tristezas, a vida não é só alegrias. Pelo contrário, a vida é dura (mesmo que pareça sempre bastante fácil para algumas pessoas que você acompanha no Instagram). Sendo assim, é preciso saber olhar para as tristezas. Que mágoas você tem em relação aos seus pais, ao amor, dinheiro, trabalho, saúde, sociedade?

9) REENCANTAMENTO

O último dos 9 componentes da anatomia profunda do autoconhecimento quer enaltecer, depois dessa grande volta pela vida, o que nos encanta. Quais são seus pequenos prazeres? Quais foram e são seus momentos sublimes? Qual o seu tipo de humor, o que te faz virar a cabeça em gargalhadas? Quando a humanidade nos decepciona, comumente procuramos a natureza, mas o que especificamente sobre a natureza te oferece consolo?

Por fim, entender verdadeiramente esses 9 componentes significa evitar muitos dos problemas comuns que nos acompanham durante a vida. Afinal, além de se entender, você se torna capaz de explicar para os outros porque você funciona como funciona e de entender melhor qual é o seu lugar no mundo.

Por sinal, se você ainda não conhece AS 29 PERGUNTAS, vale a pena conferir. Esse guia inicial e fundamental nos coloca em contato com perguntas-chave sobre nós e depois resume tudo na construção de um valioso brasão pessoal para você guardar e aplicar na vida.

5. AUTOCONHECIMENTO: UMA SELEÇÃO DE 8 VISÕES QUE VALEM A PENA

Uma das melhores maneiras de aprender é com perspectivas diferentes. Sendo assim, abaixo você irá encontrar um pout-pourri de visões diferentes de grandes pessoas falando sobre autoconhecimento.

I. UM CONSELHO DE 2.400 ANOS DE IDADE

Platão (428 – 348 AC) dizia que muitas coisas acabam dando errado na vida, pois quase nunca dedicamos tempo para pensar detalhadamente sobre os nossos planos. Por consequência, acabamos com valores errados, com trabalhos errados, e até com os relacionamentos errados.

Platão queria trazer ordem e clareza para a nossa mente através do ato de olhar logicamente para dentro. Por isso, ele repetidamente escreveu em seus livros, muitas vezes se referindo ao seu mentor Sócrates, ‘Gnothi Seauton‘: Conheça-se.

conheça-se, conhece-te a ti mesmo, platão
– Foto by Steven Houston

II. O NOSSO POTENCIAL MÁXIMO

Friedrich Nietzsche (1844 – 1900), grande filósofo alemão, acreditava que o papel central da filosofia era nos ensinar a ser quem somos. Em outras palavras, a como descobrir e ser fiel ao nosso potencial máximo. Sendo assim, durante a sua curta vida, ele escreveu sobre inveja, religião, álcool, cultura, e como essas variáveis podem nos ajudar ou nos atrapalhar durante a jornada interna.

Contudo, o que fica mais implícito nos trabalhos dele é que antes de ser quem somos, nós precisamos saber quem somos. Ou seja, o trabalho de Nietzsche é, em grande parte, sobre autoconhecimento e sobre seu poder para descobrir nosso potencial máximo na vida.

III. COMO SE CONHECER?

Talvez quem mais tenha trabalhado na questão “como desenvolver autoconhecimento” tenha sido Sigmund Freud (1856 – 1939). Ainda que a terapia moderna seja diferente da qual o famoso psicólogo idealizou, hoje podemos facilmente contar com uma das grandes ferramentas para desenvolver autoconhecimento criada por ele: a psicoterapia.

Freud estudou a relação prazer-realidade, a infância, a vida adulta, sonhos, análise. Ou seja, ele deu um profundo mergulho na escuridão que é a mente humana, ele não se contentou com a pontinha do iceberg. E assim ofereceu ousadas justificativas para as nossas vidas.

Embora muitas das ideias do pai da Psicologia moderna estejam abertas para críticas, o campo do autoconhecimento deve muito a ele.

IV. A ÚNICA MANEIRA DE ATINGIR EXCELÊNCIA VERDADEIRA

Peter Drucker (1909 – 2005), o “pai” da administração moderna, fez um forte apelo na Revista Harvard Business Review num artigo chamado Managing Oneself (Gerenciando a si mesmo).

Ele sugere que a única maneira de atingir excelência verdadeira é saber como você funciona, incluindo seus pontos fortes e seus valores. Basicamente, Drucker diz que você até pode ser bom no que faz, mas verdadeiramente excelente só dessa maneira. Só olhando para dentro.

V. A LIÇÃO MAIS IMPORTANTE DA ESCOLA DE NEGÓCIOS DE HARVARD

Clayton Christensen, – professor da Universidade de Harvard, influenciador de Steve Jobs, e conhecido por seus estudos sobre inovação, – prometeu aos seus alunos que se eles dedicassem um tempo durante os estudos para descobrir e criar seus propósitos de vida, eles olhariam mais tarde como a aprendizagem mais importante realizada na Escola de Negócios de Harvard.

Detalhe: um MBA nessa escola custa mais de 100 mil dólares por ano, isto é, mais de 400 mil reais! Como assim descobrir um propósito é melhor do que ter um estudo desse nível?

Foi exatamente isso que o professor Christensen fez. Na época dele, ele não reservou o melhor do seu raciocínio apenas para cálculos econométricos, ele reservou uma hora diária para autoconhecimento. E observando hoje diversos colegas infelizes e buscando sentido, ele viu que tomou a decisão correta.

Para ele, não adiantava saber usar as melhores ferramentas de Harvard se diante de um simples dilema organizacional você não souber sobre quais valores se apoiar.

VI. COMO FAZER UM BOM TRABALHO, SEGUNDO STEVE JOBS?

No tocante discurso de graduação da Universidade de Stanford em 2005, Jobs disse que inevitavelmente a vida irá te bater na cabeça com um tijolo e, nesse momento, a única coisa que vai manter você em pé, é o amor pelo seu trabalho. Ele conclui assim:

“Você precisa encontrar o que ama. A única maneira de fazer um ótimo trabalho é amar o que você faz. Se você ainda não encontrou, continue procurando. Não pare!”

A parte “continue procurando” dessa inspiradora frase é um chamado para se conhecer, é um chamado para se manter curioso. Tanto pelo universo interno como também pelo externo.

VII. A GRANDE BASE DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Daniel Goleman é o criador do importante conceito de Inteligência Emocional. Para ele, o que diferencia um líder hoje em dia não é QI nem habilidades técnicas, é Inteligência Emocional. Sua teoria fala sobre coisas importantes para a nossa vida, por exemplo habilidades sociais, empatia, motivação. Mas sabe por onde ele começa?

Por autoconhecimento. É esse o primeiro elemento da sua teoria. Talvez não por ser mais importante, mas por ser fundamental.

VIII. VITÓRIAS PARTICULARES E VITÓRIAS PÚBLICAS

Stephen Covey, autor do clássico livro Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, destaca diversas vezes que as vitórias particulares precedem as vitórias públicas, e nunca ao contrário. O que isso quer dizer?

É parecido com a ideia de Daniel Goleman acima, não adianta falar de relações melhores sem antes falar de indivíduos melhores. Não adianta falar de sociedades melhores sem antes falar de indivíduos melhores. Ou seja, o caminho é de dentro para fora. Antes de resolvermos o mundo externo precisamos entender o mundo interno.

6. O FUTURO DO AUTOCONHECIMENTO: QUAIS SÃO AS GRANDES MUDANÇAS PELA FRENTE?

Se Freud desbravou o interior do ser humano através da análise feita por um profissional treinado, agora outro mundo parece estar surgindo: a análise feita por tecnologia. 

Apps, relógios, softwares são e serão cada vez mais acessíveis como ferramentas de autoconhecimento. Horas de sono, dieta ideal, sinais vitais básicos, check-up instantâneo são apenas alguns exemplos de variáveis que essas ferramentas estão lidando.

Segundo o pesquisador H. James Wilson, existem 2 tipos de ferramentas: as rastreadoras (trackers) e as cutucadoras (nudgers). As rastreadoras basicamente coletam dados sobre você e te apresentam sob algum formato específico. As cutucadoras, com base nos dados coletados, sugerem ações personalizadas. Por exemplo, um relógio que te sugere dar uma volta, pois você está parado há muito tempo. Ou um app que sugere determinadas horas de sono para a noite seguinte, com base nos dados das últimas noites.

No entanto, Wilson diz que ainda é muito cedo para o potencial máximo da autoanálise. As ferramentas não só ficarão melhores como terão tendência a enxergar o ser humano de maneira mais holística. A grande expectativa é que as máquinas nos ajudem a tomar grandes decisões de vida, como mudar totalmente de carreira, por exemplo.

Já pensou que maluco pedir demissão por sugestão de um robô?

Mas a quantificação da nossa vida inevitavelmente faz perguntar: as máquinas saberão mais sobre nós do que nós mesmos?

7. UM NOVO E GRANDE PERIGO

autoconhecimento, yuval noah harari, dados
– Foto by Markus Spiske

Nessa altura do artigo já conseguimos entender por que não se conhecer é negativo. Basicamente, pois tomamos decisões piores, principalmente no que envolve relacionamentos e carreira. E tudo isso é ruim, sem dúvida.

Mas hoje o buraco está mudando um pouco mais para baixo. Não se conhecer bem está se tornando realmente perigoso. Acontece mais ou menos assim, por trás dessas invejáveis ferramentas coletando os nossos dados, existem empresas. E por trás de empresas, existem pessoas. E onde há pessoas, há interesses. Até aqui sem novidades, é o velho ser humano em ação.

Yuval Noah Harari, professor e autor do brilhante livro Sapiens, diz o seguinte:

“[Para manipular você] corporações e governos não terão que te conhecer perfeitamente. Isso é impossível. Eles apenas precisarão te conhecer um pouco melhor do que você se conhece. E isso não é impossível, porque a maioria das pessoas não se conhece muito bem”.

Veja, é sabido que hoje os nossos dados são coletados através da internet (anúncios que clicamos, páginas que visitamos, buscas que fazemos, compras que efetuamos…). Resultado: empresas e governos conseguem conhecer um indivíduo incrivelmente bem cruzando todas essas informações.

Mas segundo Harari, esse não é o maior problema. O real problema só vai mesmo chegar quando eles souberem mais sobre nós do que nós mesmos. Quando esse dia chegar nós seremos facilmente manipulados, principalmente no que envolve produtos para comprar (nosso dinheiro) e políticos para votar (nosso futuro).

Por mais que autoconhecimento já fosse altamente valorizado há 2.500 anos na Grécia antiga, se um cidadão não se conhecesse bem naquela época, ele continuaria sendo um ponto invisível para o restante da sociedade. Hoje e no futuro, se não nos conhecermos bem, poderemos ser manipulados com muito mais facilidade.

Não se conhecer bem passou a ser verdadeiramente perigoso.

8. CONCLUSÃO

Antes de mais nada, obrigado a você guerreiro ou guerreira que chegou até aqui!

Meu objetivo com esse artigo bastante completo foi trazer o Pareto do autoconhecimento. Ou seja, eu queria trazer o mínimo possível que trará o máximo de valor para as nossas vidas. Como o tema é gigante, esse mínimo não é pequeno, mas alguns assuntos não merecem superficialidade.

Também vale lembrar que estou tentando responder apenas “o que” é autoconhecimento, não “como”. O “como”, que por sinal é uma pergunta muito interessante, é a proposta do blog como um todo, então seria impossível responder na forma de um único artigo.

Aliás, a melhor forma que eu conheço de começar a desenvolver autoconhecimento é através das 29 PERGUNTAS, um guia inicial e fundamental que faz um levantamento de várias informações-chave sobre você e organiza tudo isso de modo resumido, intuitivo e prático para aplicar na vida.

Enfim, autoconhecimento significa melhores decisões, vida autêntica, e maturidade. Autoconhecimento é pré-requisito para viver a vida, devia ser ensinado na escola. Se autoconhecimento sempre foi importante, hoje é verdadeiramente necessário.

Então, a melhor coisa que você pode fazer é se manter curioso. Sempre.

Questione-se, desafie-se, desenvolva-se. Pois o caminho é de dentro para fora.

REFERÊNCIAS:

Clayton Christensen (2012) How Will You Measure Your Life? Harper Collins. Link amazon: https://amzn.to/2U1FD9V 

Daniel Goleman (2019) The First Component of Emotional Intelligence. Harvard Business Review: Emotional Intelligence Series: Self-Awareness. Link amazon: https://amzn.to/35DA3fL 

Enciclopédia de Filosofia de Stanford (2003) Self-Knowledge. Link: https://plato.stanford.edu/entries/self-knowledge/

H. James Wilson (2019) You, By The Numbers. Harvard Business Review: Emotional Intelligence Series: Self-Awareness. Link amazon: https://amzn.to/35DA3fL 

Headspace. Citação do dia. Link: https://www.headspace.com/

Helen Gagatsiu (2018) Greek Philosophy: Surprisingly modern wisdom from ancient Greeks. Papasotiriou Publishing. Link amazon: https://www.amazon.co.uk/Greek-Philosophy-Surprisingly-Modern-Ancient/dp/960491104X

Ian Parker (2020) Yuval Noah Harari’s History of Everyone, Ever. The New Yorker Magazine. Link: https://www.newyorker.com/magazine/2020/02/17/yuval-noah-harari-gives-the-really-big-picture

Peter Drucker (2005) Managing Oneself. Harvard Business Review. Link: https://hbr.org/2005/01/managing-oneself

Stephen Covey (1989) Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes. Editora Best Seller. Link amazon: https://amzn.to/2TuO5Kb 

Steve Jobs (2005) Stanford Commencement Speech. Link Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=s9E6XfJPAMM 

Susan Cain (2012) Quiet: The power of introverts in a world that can’t stop talking. Penguin Books. Link amazon: https://amzn.to/2wvjKpj 

Tasha Eurich (2017) Insight: The surprising truth about how others see us, how we see ourselves, and why the answers matter more than we think. Link amazon: https://amzn.to/2HFIWhb 

Tasha Eurich (2019) What Self-Awareness Really Is (And How to Cultivate It). Harvard Business Review: Emotional Intelligence Series: Self-Awareness. Link amazon: https://amzn.to/35DA3fL 

The School of Life (2016) Great Thinkers. Link amazon: https://amzn.to/2HDYvG4 

The School of Life (2017) Self-Knowledge. Link amazon: https://amzn.to/2CyApZ6

The School of Life (2018) Who Am I? Psychological exercises to develop self-understanding. Link amazon: https://amzn.to/2ImRxU8

Will Durant (1926) The Story of Philosophy: The lives and opinions of the world’s greatest philosophers from Plato to John Dewey. Pocket Books. Link amazon: https://amzn.to/2L0j4fP

Yuval Noah Harari (2018) The Myth of Freedom. The Guardian. Link: https://www.theguardian.com/books/2018/sep/14/yuval-noah-harari-the-new-threat-to-liberal-democracy

Você também pode gostar