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A diferença (e os perigos) de ter Prazeres e Gratificações na vida

Escrito por Felipe Cotrim 23/01/2018
A diferença (e os perigos) de ter Prazeres e Gratificações na vida

Em sua vida, você alimenta mais prazeres ou gratificações?

Martin Seligman, o “pai” da Psicologia Positiva, faz uma distinção entre prazeres e gratificações:

Ele diz que prazeres são momentos agradáveis e têm componentes sensoriais fortes.

Por exemplo, comer um chocolate, tomar um banho quente no alto inverno, sentar em frente a uma crepitante fogueira e assistir uma boa série no Netflix. Prazeres são rápidos e envolvem pouco raciocínio.

Gratificações são atividades que também gostamos de fazer, mas não necessariamente são acompanhadas por qualquer sentimento. Elas nos engajam, ficamos imersos e absorvidos.

Por exemplo, aproveitar uma boa conversa, escalar uma montanha, ler um livro, dançar, e jogar uma partida de futebol são todos exemplos de atividades que fazem o tempo parar.

Nossas habilidades se unem ao desafio e entramos em contato com os nossos pontos fortes. As gratificações duram mais tempo que os prazeres, e envolvem muito raciocínio e interpretação.

CUIDADO: UMA VIDA DE PRAZERES PODE SER PERIGOSA

O professor Seligman diz que uma das causas da epidemia de depressão e ansiedade que o mundo está vivendo é a criação de atalhos para a felicidade.

Quanto mais desenvolvida a nação mais atalhos temos para conseguir prazer. Televisão, drogas, shopping, álcool, mídias sociais, sexo sem amor e chocolate só para citar alguns.

Mas o problema não é ter prazeres na vida. O problema é  ter prazeres.

Martin Seligman, em seu livro Authentic Happiness, pergunta: “o que aconteceria se uma vida fosse constituída somente por esses prazeres fáceis, nunca utilizando habilidades e encarando desafios?”

“Esta vida prepara um indivíduo para a depressão”, ele mesmo responde.

Acontece que uma pessoa depressiva é demasiadamente focada nela mesma. E entrar em contato com gratificações é totalmente o oposto disso, o foco se volta para o momento presente e não para si mesmo, envolve raciocínio e gera engajamento total.

Ou seja, ter gratificações pode ser considerado um antídoto contra depressão. Poderoso, né?

E isso, por sinal, é a essência da Psicologia Positiva, prevenir doenças e não remediá-las.

ENTRAR EM ESTADO DE FLOW

Mihaly Csikszentmihalyi, professor e autor, chamou isto de FLOW (ou fluxo, em português), inclusive esse é o nome do seu excelente livro.

(Não tão excelente é o nome dele. Pronuncia-se mais ou menos assim: tic-sem-mi-rai).

Entrar em estado de flow é estar totalmente envolvido com a atividade presente. Atividade que te desafia e te convida a utilizar suas melhores habilidades.

Em estado de flow você perde a noção do tempo e há uma sincronia total de movimentos, emoções e expressões.

Csikszentmihalyi diz que gratificação (flow) não é sempre prazerosa e até pode ser estressante.

Um escalador de altas montanhas, por exemplo, pode estar perto de congelar, exausto, em perigo, e mesmo assim não gostaria de estar em nenhum outro lugar.

Com certeza, bebericar um coquetel sob a sombra de coqueiros olhando para o mar é legal, mas não se compara a sensação energizante no topo de uma montanha.

Por outro lado, prazer é uma grande fonte de motivação, mas que apenas nos força a alcançar conforto e relaxamento.

QUAIS ATIVIDADES SÃO GRATIFICANTES NA SUA VIDA?

Eu, por exemplo, tenho prestado mais atenção nisso. Gratificações são muito mais presentes na minha vida quando estou desenvolvendo atividades dentro de duas áreas: educação e música.

Por educação quero dizer ler, escrever, aprender, ensinar, questionar criticamente, assistir uma aula, fazer um curso, bolar uma apresentação, explicar um conceito e etc.

Eu consigo entrar em estado de flow com muito mais facilidade desenvolvendo algumas dessas atividades do que com qualquer outra atividade da minha rotina normal.

Por música quero dizer basicamente tocar, cantar e compor. Para quem não sabe, eu sou apaixonado por samba e autodidata. Música é um talento meu, quase bruto, pois pouco o desenvolvi. Tudo que sei aprendi sozinho.

Tocar entre amigos para um público me traz um retorno inexplicável. Nesses momentos, eu não penso em absolutamente nada. Eu estou profundamente imerso no presente e é como se tudo fizesse sentido.

Embora eu saia suado, rouco e com dor nos dedos, parece que eu fiquei 1 semana na praia de tão revigorante que é uma roda de samba para mim.

Eu sou muito grato, pois a minha vida também é cheia de prazeres, mas, sinceramente, não consigo calcular o impacto negativo que me causaria uma vida sem essas gratificações.

CONCLUSÃO

Prazeres são importantes na nossa vida, quem não gosta de saborear uma trufa de chocolate que derrete na boca? E quem não gosta de assistir um filme envolvente?

Todo mundo!

Só fiz questão de distinguir prazeres de gratificações, pois prazeres têm menos impacto na nossa felicidade duradoura. Eles são sensações rápidas e usar isso como atalho para a felicidade não funciona.

Por sinal, não esqueça disso, uma vida feita somente de prazeres está correlacionada com depressão e ansiedade.

Gratificações, por outro lado, têm mais impacto na nossa felicidade sustentável, primeiro porque duram mais, e segundo porque te desafiam e te desenvolvem como ser humano.

É como se você fizesse o que você veio para fazer nesse mundo.

  • Como você está balanceando prazeres e gratificações na sua vida?
  • Você continuamente busca prazeres como forma de atalho para a felicidade?
  • Quais atividades te deixam em estado de flow?

Pare alguns minutos e pense sobre isso.

Esta não é qualquer reflexão, essa, comprovadamente, diz respeito a sua felicidade.

Referências:

Martin Seligman (2002) Authentic Happiness: Using the New Positive Psychology to Realize Your Potential for Lasting Fulfillment. Atria Paperback.

Mihaly Csikszentmihalyi (1990) Flow: The Psychology of Optimal Experience. HarperCollins Publishers.

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