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Os problemas comuns de quem não se conhece muito bem

Escrito por Felipe Cotrim 20/05/2020
Os problemas comuns de quem não se conhece muito bem

Eu acredito que grande parte das frustrações e problemas comuns da vida são solucionados quando conseguimos começar a fazer uma coisa: saber quem somos.

Às vezes parece possível viver a vida sem autoconhecimento, porém é tão arriscado como tentar subir um prédio com a fundação mal feita.

Quem não se conhece muito bem pode sofrer em diversas situações da vida sem exatamente perceber o porquê.

Então hoje vamos olhar algumas situações habituais e alguns dos problemas comuns da falta de autoconhecimento.

Afinal, mudança só ocorre depois de ter consciência do que está acontecendo.

1) FAZER AS VIAGENS ERRADAS

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Foto: John Fornander

Viajar é um grande prazer para a maioria das pessoas, não é incomum encontrar gente que junta dinheiro o ano todo só para isso.

São tantos acontecimentos diferentes e estimulantes: um carimbo novinho no passaporte, notar como o clima é um pouco diferente do nosso, aprender uma palavra nova em italiano e conseguir usá-la, experimentar um tempero excêntrico de outra região do país.

Porém os prazeres de viajar podem ser reduzidos bastante quando não nos conhecemos bem.

Acabamos indo para um resort all-inclusive na Bahia, afinal o que poderia ser melhor do que piscina, praia e comida à vontade? No entanto, quando chegamos lá, embora a água de côco esteja maravilhosa, nós lembramos que talvez não queríamos exatamente ouvir de fundo as aulas de lambaeróbica e ter o nosso livro molhado pela criança que pulou de bomba na piscina.

Podemos acabar em Dubai, pois a foto do pacote da agência parecia bonita e o preço estava justo, mas na verdade não gostamos tanto assim de prédios altos e o clima quente nos dá dor de cabeça.

Mas a verdade é que não há destino de viagem certo ou errado, se conhecer é apenas conseguir escolher os destinos de viagem certos para nós.

Antes de sermos influenciados por fotos, pacotes, preço, ou a história do vizinho que fez a “melhor viagem da vida dele”, temos que olhar para dentro.

Qual o meu tipo de viagem? E mais do que isso, que tipo de viagem eu preciso nesse momento?

A vida tem fases. Sair de um relacionamento longo pode pedir uma coisa e ter perdido o emprego outra. Você pode ter virado mãe, ou também pode estar buscando espiritualidade e respostas. Que destinos parecem mais coerentes com esses acontecimentos?

Antes de olhar para agências, pacotes, e histórias do vizinho, olhe para você.

Antes de olhar para fora, olhe para dentro.

2) ESCOLHER A CULTURA ERRADA

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Foto: iSAW Company

Pode ser livro, arte, música, mas quando não nos conhecemos bem não temos um gosto próprio.

A dificuldade de entender quem somos acaba nos fazendo ler o livro da lista dos mais lidos, ir nas exposições top 3 de uma cidade, e ouvir apenas o que toca no rádio.

E não há nada de errado com tudo isso, o livro pode ser realmente bom e a música também.

Mas cultura tem um papel fundamental de conversar com a gente, de falar diretamente com o nosso momento atual e de oferecer um certo tipo de consolo.

Ou seja, quando sabemos alinhar o que queremos com as ofertas do mundo, as chances de sermos impactados e transformados por cultura são muito maiores. É como se a nossa relação com cultura tivesse mais efeito.

Um bom sinal de autoconhecimento é entrar numa livraria e saber a sua seção preferida, ou durante uma viagem para fora do Brasil visitar um museu bem específico, por exemplo.

Por fim, quando a gente se conhece, a nossa experiência com cultura muda e fica mais produtiva.

3) TOPAR AS ATIVIDADES ERRADAS

Um bom nível de autoconhecimento, algo trabalhoso de alcançar na vida, traz foco. Ganhamos clareza e fica mais fácil dizer ‘não’ para um monte de atividades. Por outro lado, a “autoignorância” judia do nosso poder de decisão.

É apenas ter um tempo livre para abraçar a primeira atividade que passa na cabeça: dar umas voltas no shopping, aparecer no futebol da empresa, fazer happy hour de segunda à sexta, passar horas rolando seu feed de notícias das redes sociais, ficar caçando séries no Netflix para maratonar, e assim por diante.

Algumas dessas atividades até tem valor, o problema é quando elas não estão alinhadas conosco e quando são resultado de “autoignorância”.

Tempo, o nosso bem mais precioso, é mais fácil de ser administrado quando sabemos o que queremos. Talvez seja aprender, talvez cuidar mais da mente, se alimentar melhor, contribuir socialmente de alguma forma.

Ou seja, é fácil dizer sim para o terceiro happy hour seguido da semana quando não temos clareza do que, de fato, queremos. Conhecer-se é saber dizer ‘não’ para as atividades erradas.

4) ACEITAR O TRABALHO ERRADO

Acertar num trabalho ideal de primeira é um feito para poucos e também envolve um pouco de sorte. Mas a ideia, ao longo da vida, é conseguir escolher um trabalho que traga real satisfação e motivação.

Chegar lá é uma arte bastante complexa, mas ter consciência do que é o trabalho ideal para nós não é assim tão difícil.

Já que o trabalho é uma das partes mais representativas da nossa vida, ele também pode ser responsável pelas nossas maiores frustrações.

Hoje em dia, é bastante comum assistir episódios de burnout, falta de motivação, aquela depressão de domingo à noite, e crises de meia idade ou de qualquer idade.

Quando não sabemos muito bem quem somos, a nossa escolha de trabalho fica à mercê de influências externas: os nossos pais, os colegas da faculdade, o restante da sociedade, apenas o que traz dinheiro, etc.

A verdade é que o mundo exterior tem boas intenções: os seus pais querem que você tenha dinheiro para sobreviver, seus amigos acham que a melhor opção para eles é a melhor opção para qualquer um, a sociedade distingue um trabalho “de verdade” dos outros tipos inferiores de trabalho.

Logo, sem olhar para dentro você certamente será influenciado pelo mundo.

Mas o problema não é exatamente ser influenciado pelo mundo, o problema real é ser influenciado apenas pelo mundo.

Autoconhecimento traz clareza do que queremos e de como podemos contribuir da melhor forma nessa vida. É somente a partir desse lugar que podemos passar a buscar coerência entre nós e o mundo, e que conseguimos alinhar interesses e pontos fortes (interno) com oportunidades e viabilidade (externo).

5) MORAR NA CIDADE ERRADA

Na vida, a maioria de nós tem a chance de escolher onde morar.

Às vezes acabamos indo parar no interior, talvez numa cidade grande, ou até fora do país.

Como não sabemos muito bem por que tomamos a decisão que tomamos, começamos a notar alguns problemas: o silêncio enlouquecedor de uma pequena cidade, o nariz seco por causa da poluição de São Paulo, a saudade de conseguir se expressar livremente na nossa própria língua.

Para muitos de nós, por exemplo, poder pedir comida delivery 24 horas é muito importante, para outros é totalmente irrelevante. Um ritmo de vida agitado e internacional não é nada atraente para algumas pessoas e quase vital para outras.

Sendo assim, a falta de autoconhecimento pode nos levar a morar nas cidades erradas. Na verdade, nas cidades erradas para nós.

Logo, entender quem somos é saber distinguir a cidade ideal para outras pessoas e a cidade ideal para nós. E mais do que isso, é saber em que ambientes nos sentimos melhor e somos melhores.

6) TER AMIZADES DESALINHADAS

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Foto: Olivia Spink

Uma boa amizade é uma das coisas mais prazerosas que existem.

Um problema de quem não se conhece bem é não saber em quais potenciais amigos investir tempo e energia.

É claro que quando somos crianças os nossos amigos são aqueles que estão perto de nós na escola, na vizinhança, ou no clube.

Mas na fase adulta, além das forças naturais da vida que nos afastam dos amigos de antigamente, o nosso tempo é mais limitado. Ou seja, precisamos escolher melhor.

Quando temos menos tempo, a importância de se conhecer se torna ainda mais evidente, pois talvez não queiramos passar uma tarde com alguém que só quer jogar videogame, nem discutir o tempo todo sobre a economia dos Estados Unidos. Talvez não queiramos ir no estádio toda quarta, nem precisar gastar uma fortuna para se divertir.

Ainda podemos conhecer muita gente, e é claro que durante a vida iremos fazer várias atividades que não gostamos tanto, mas em geral é cada vez mais importante saber investir mais tempo em amizades alinhadas com você e menos tempo em amizades desalinhadas de você e do seu momento de vida.

7) CAIR EM CONVERSAS PIORES

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Foto: Priscilla Du Preez

Naturalmente, como espécie social que somos, nós conversamos.

Conversas têm um certo poder, elas podem ensinar, nos aproximar dos outros, e algumas até fazem a gente perder a noção do tempo.

(Sugestão de leitura: Entenda a arte por trás das boas conversas).

Porém quando não nos conhecemos muito bem, não sabemos quais tipos de conversas e assuntos são a nossa preferência. Ou seja, viramos vítima de conversar sobre o que todo mundo conversa: a performance duvidosa do zagueiro do nosso time na última quarta, uma nova lei estúpida da cidade, o trânsito recorde, a novela.

Ter consciência dos nossos assuntos preferidos e interesses autênticos vai nos mostrar que podemos nos aproximar de pessoas que também gostam disso.

Você pode, por exemplo, ser apaixonada por música brasileira ou por poker; por livros ou artesanatos; por desenvolvimento pessoal ou maneiras sustentáveis de viver.

Falo por experiência própria, encontrar uma tribo onde é possível ter conversas produtivas pode ser transformador.

Descobrir um clube de livros para alguém que conversou boa parte da vida sobre as últimas notícias é indescritível. Fazer parte de uma comunidade criativa focada em artesanatos e entender que talvez tenha gente no mundo tão doida quanto você, pode ser uma mini epifania.

Não me entenda mal, ninguém nesse mundo está salvo de conversar sobre o trânsito e o tempo, mas estar disposto a buscar encontros e conversas mais significativas e alinhadas conosco ajuda bastante.

8) SEXO PIOR

– Foto: Reproductive Health Supplies Coalition

Aí está um assunto que não falamos e às vezes não pensamos sobre. No entanto, é uma das partes mais importantes da vida. Do ponto de vista da Teoria da Evolução pelo menos, talvez seja esse o grande propósito da nossa vida.

Eu explico: toda espécie de animal, inclusive a nossa chamada Homo Sapiens, quer essencialmente uma coisa: sobreviver e prosperar.

Como se prospera? Com quantidade de DNAs no mundo. Ou seja, reproduzindo.

Isso dá uma discussão extremamente interessante, mas por hoje só queria dizer que sexo é, assim como trabalho e família, um dos pilares da nossa vida.

Portanto, falta de autoentendimento nesse quesito também significa frustração. Do que gostamos e não gostamos? Por que será? Alguma experiência do passado tem relação com isso?

Da mesma forma que podemos ser influenciados por pacotes de viagem na escolha das nossas férias e pelos colegas da faculdade na escolha de um trabalho, quando falamos de sexo, podemos ser influenciados por pornografia, por conversas com amigos, e por comportamentos da sociedade.

E isso não é bom nem ruim. Isso só é ruim quando você acha que todos esses fatores externos são quem você essencialmente é. Mas a resposta para quem você é sexualmente está dentro de você. Não fora.

9) O MUNDO NÃO NOS ENTENDE

o mundo não nos entende,  problemas da falta de autoconhecimento
Foto: Ismail Hamzah

Quando não nos entendemos bem, não conseguimos nos explicar eficazmente para o mundo. A consequência disso é bastante frustrante: não somos devidamente compreendidos.

A verdade é que nós somos únicos, pois passamos por um conjunto de experiências unicamente nossas. Isso resulta em jeitos, pensamentos, e reações específicas.

(Sugestão de leitura: o que são modelos mentais e por que eleger os seus?)

Se é difícil para nós entendermos o que há por trás disso, para os outros é mais ainda. Como resultado, temos constantes desentendimentos.

É nesse ponto que percebemos que autoconhecimento não é um luxo, mas uma obrigação. Primeiramente com a gente mesmo e depois com os outros.

Autoconhecimento nos ajuda a explicar os nossos jeitos estranhos para os outros e esclarecer por que agimos como agimos.

Bem, quando não entendemos por que ficamos tão nervosos diante de uma apresentação, não podemos explicar para os outros que na escola os nossos amigos riam do jeito que a gente falava. Quando não entendemos por que odiamos brigar, não podemos explicar para os outros que a separação dos nossos pais nos deixou uma marca profunda. Quando não entendemos por que não admitimos ganhar menos do que a nossa esposa, não podemos explicar para os outros que aprendemos por palavras e exemplos que um homem sem dinheiro não é homem de verdade.

Ou seja, quando nem nós entendemos quem somos, não conseguiremos esclarecer as dúvidas que os outros terão e seremos constantemente mal compreendidos.

10) ALCANÇAR O SUCESSO ERRADO

alcançar o sucesso errado, problemas da falta de autoconhecimento
– Foto: Malena Gonzalez Serena

Sucesso é uma palavra que precisa ser definida por cada um de nós. Se você nunca fez isso, você provavelmente pegou carona na definição de sucesso de alguém.

Para o seu pai, por exemplo, sucesso pode significar vitória financeira, para a sua mãe vitória pessoal e social, para os seus amigos pode ser vitória corporativa, para um conhecido pode ser vitória acadêmica.

Seja ainda mais específico do que isso, qual a cara do seu sucesso?

É importante responder essa pergunta, pois quando você pega uma definição de sucesso emprestada e navega para chegar até lá, você vai perceber que só trabalhou para chegar no destino errado.

E o destino errado nem sempre é tão ruim, mas você sabe lá no fundo quando algo está desalinhado.

Então, fundamentalmente, autoconhecimento é conseguir definir o “sucesso certo” e o “sucesso errado” para depois pensar em como chegar lá.

11) ESCOLHER OS PARCEIROS ERRADOS

escolher os parceiros errados, problemas da falta de autoconhecimento
Foto: Charles Deluvio

Outro problema de quem não se conhece bem é não conseguir escolher parceiros de vida eficazmente.

Um fato é que nenhum relacionamento será perfeito. Aliás, a maioria vai exigir bastante trabalho de ambos os lados, mas por que não refletir melhor sobre uma das decisões que mais afetará a nossa vida?

O papo de passar o resto da sua vida com alguém que você se apaixonou soa muito bonito, mas pode resultar em problemas quando é o único critério da decisão.

Nós hoje podemos escolher com quem vamos passar a nossa vida, algo extremamente novo na história da humanidade e ainda um privilégio para muitos países e culturas. Porém, não é por isso que não devemos ponderar a situação.

Quais os seus valores e quais os valores da pessoa? Quais os seus hábitos e reações e quais os da pessoa? Como é a sua personalidade em relação a dela? A pessoa tem consciência das próprias falhas e tem desejo de se desenvolver e evoluir?

Como muitos dos exemplos que vimos acima, esse também é um exercício de alinhamento interno (você) e externo (a outra pessoa). Gostar de alguém é importante, mas não é suficiente.

Por fim, é muito fácil escolher os parceiros errados sem saber o que queremos e o que buscamos.

12) COMPRAR MOBÍLIA PIOR

comprar mobília pior, problemas da falta de autoconhecimento
– Foto: Kari Shea

Até nas situações aparentemente menos importantes nós podemos sofrer sem um pouco de conhecimento próprio.

Quando mudamos para uma casa nova, por exemplo, iniciamos a importante jornada da decoração do nosso novo lar.

E os problemas de alguém que se conhece pouco podem ser inúmeros aqui: cadeiras, tapetes e mesas de apoio sem identidade, ambientes até que simpáticos, mas estranhamente parecidos com a casa dos nossos pais, quadros pouco originais, e peças que representam quase nada para nós.

A verdade é que qualquer Tok&Stok fica bem menos atraente quando sabemos o que queremos.

Em vez de perguntar “o que fazer com esse espaço?”, passamos a perguntar “o que eu valorizo que a minha casa ainda não está representando?”. Em vez de perguntar a cor da moda para a parede, passamos a perguntar de qual cor gostamos.

Em resumo, em vez de perguntar o que desejamos, passamos a perguntar o que precisamos.

CONCLUSÃO

Eu não sei se você notou, mas existe um padrão claro ao longo desse texto.

Parece que tudo o que há por trás da falta de autoconhecimento pode ser resumido em uma dor e um benefício.

  • A dor de quem não se conhece bem pode ser resumida em falta de clareza.
  • A consequência dessa dor pode ser resumida em dificuldade de tomar decisões.
  • E o resultado é VIVER PIOR.

Sendo assim…

  • O benefício de quem se conhece bem seria clareza.
  • A consequência desse benefício é saber tomar decisões melhores e coerentes.
  • E o resultado é VIVER MELHOR.

Viver melhor, para mim, é se aproximar de uma vida autêntica. E o primeiro passo para viver a vida autêntica é autoconhecimento.

Como desenvolver autoconhecimento é a pergunta que guia os conteúdos desse blog inteiro. É uma ciência complexa, mas se você quiser levar isso a sério, eu sugiro começar com esse guia completo.

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