A Síndrome do Impostor é um tema muito discutido nos Estados Unidos e o assunto está crescendo rápido no Brasil.
Ainda bem, pois sua importância é enorme.
Você, por exemplo:
Em vez de celebrar a própria conquista, disse que foi sorte?
Tem trabalhado demais, ou talvez de menos?
A cultura do ‘nunca é o suficiente’ tomou conta de você também?
Esse artigo vai abordar tudo sobre a síndrome do impostor: significado, como detectar em você, como superar e exemplos de pessoas grandiosas que já foram vítimas.
Veja o que temos pela frente:
- Introdução
- O que é a síndrome do impostor?
- A cultura do “nunca é o suficiente”
- 5 sinais que você é uma vítima
- Mulheres ou homens: quem são os mais afetados?
- Felipe: impostor desde a escola
- A “simples” solução
- 3 grandiosas figuras com a síndrome do impostor
- Conclusão
Então vamos lá!
INTRODUÇÃO
“Se temos sucesso, foi sorte. Se fracassamos, somos incompetentes. É um jeito bem complicado de viver”
Amy Cuddy – O Poder da Presença (2015)
O assunto nasceu em 1978, mas a grande importância dele parece estar nos dias de hoje.
Grandes profissionais como Sheryl Sandberg, a Chefe das Operações Globais do Facebook, falam sobre o tema.
Amy Cuddy e Brené Brown, ambas professoras e pesquisadoras, nos alertam para os perigos em torno desse fenômeno.
Estudos estimam que a síndrome do impostor afeta, em algum momento da vida, 70% das pessoas no mundo.
Pois é, as estatísticas não estão ao seu favor. Pelo contrário, sugerem que muito provavelmente você é uma vítima.
Porém, antes de descobrir onde você se enquadra e como superar, vamos primeiro entender o que significa isso.
O QUE É A SÍNDROME DO IMPOSTOR?
Em 1978, Suzanne Imes e Pauline Clance, duas psicólogas americanas, descreveram o fenômeno pela primeira vez e desde então a importância do assunto só cresceu.
Segundo a autora Amy Cuddy no livro O Poder da Presença, síndrome do impostor é a crença profunda e às vezes paralisante de que nos deram algo que não conquistamos nem merecemos e que em determinado momento seremos desmascarados.
Em outras palavras, nós nos sentimos como uma fraude, alguém com um defeito terrível que pode ser revelado a qualquer momento.
É se sentir como um enganador e alguém que não merece estar onde está.
Nossa voz interior pode dizer coisas como:
“De hoje eu não passo, vão descobrir que eu não sou capaz disso”.
“O que eu estou fazendo aqui? Vou ser desmascarado”.
“Apenas tive sorte, o professor vai me descobrir cedo ou tarde”.
Enfim, sentimos isso com mais frequência no trabalho, mas também em ambientes sociais, acadêmicos e até na vida pessoal.
Se você assiste a série Suits do Netflix, sabe que Mike é uma fraude. Ele trabalha como advogado, mesmo sem ter uma formação em Direito, e por isso tem medo de ser desmascarado.
Mas aí está uma grande diferença, nenhum de nós está pisando em tribunais sem diploma. Ou seja, não somos impostores, mas nos sentimos como um.
Por que será que nos sentimos assim? Quando será que vamos conseguir nos enxergar como bons o suficiente?
A CULTURA DO “NUNCA É O SUFICIENTE”
Brené Brown, autora e pesquisadora americana, escreveu um livro brilhante chamado A Coragem de Ser Imperfeito (em inglês, Daring Greatly), onde fala sobre a cultura do “nunca é o suficiente”.
Conhece o conceito? Garanto que sim.
“Eu ainda não sou bom/boa o suficiente”.
“(…) magro/magra o suficiente”.
“(…) bem sucedido/bem sucedida o suficiente”.
“(…) inteligente o suficiente”.
“(…) poderoso/poderosa o suficiente”.
Enfim, podemos preencher essa mesma frase de mil e uma maneiras.
A verdade é que comparar nunca foi tão fácil, ainda mais nesses tempos de redes sociais, basta rolar o dedo para encontrar alguém “melhor” do que você.
O problema de comparar é justamente esse, sempre vamos encontrar alguém melhor do que nós em algum quesito.
- Se você tem uma faculdade, vai conhecer alguém com duas.
- Se você fala inglês, vai encontrar alguém que fala inglês e francês.
- Se você você tirou 8 na prova, vai aparecer alguém que tirou 9,5.
- Se você é gerente com 35 anos, vai ver um diretor com a mesma idade.
Em vez de pensarmos que não somos suficientes, poderíamos pensar que já somos bons o suficiente.
Afinal, não podemos esquecer que falar inglês é ótimo e tirar 8 na prova também!
Se pensamos que já somos suficientes, não corremos o risco de pensar que podemos ser desmascarados. A síndrome do impostor vem de um sentimento de falta.
Bom, se você estava lendo e ao mesmo tempo tentando fazer uma autoavaliação, não se preocupe, a próxima seção vai te ajudar melhor.
5 SINAIS QUE VOCÊ É UMA VÍTIMA DA SÍNDROME DO IMPOSTOR
O intuito aqui não é diagnosticar nada, mas levantar alguns dos sinais mais comuns da síndrome do impostor para que você possa refletir sobre seus passos pessoais e profissionais.
1. VOCÊ TRABALHA DEMAIS
A lógica é simples.
Se eu acredito estar cercado por gente mais inteligente e capaz, vou trabalhar o dobro para nunca ser descoberto.
Infelizmente ser workaholic ainda é algo positivo em algumas empresas e em alguns setores, logo seu refúgio para não ser desmascarado é trabalhar em excesso.
Afinal, é difícil ser julgado incompetente trabalhando demais. Parece o disfarce perfeito.
2. VOCÊ TRABALHA DE MENOS
Quanto mais projetos você entregar, maiores são as chances de você ser pego. Logo, a opção mais convidativa se torna diminuir o ritmo.
Ser visto como preguiçoso, lento ou enrolado, pode parecer melhor do que ganhar o rótulo de incapaz.
Dar seu máximo implica em enxergar genuinamente todo o seu potencial.
Eu sei, dá medo.
Porém, fazer essa análise e saber aceitá-la com compaixão é fundamental para nos encontrarmos melhor no trabalho, além de ser libertador.
3. VOCÊ BUSCA APROVAÇÃO SOCIAL
Você busca a aprovação das pessoas, usa seu carisma, busca ser querido e aceito para disfarçar suas supostas limitações.
Afinal, se você for querido e bem aceito assim, menores serão as chances de você ser julgado e desmascarado.
4. VOCÊ NEGA CELEBRAR O PRÓPRIO SUCESSO
Vamos supor que você tenha aberto um cliente novo e seu chefe ou qualquer outra pessoa te diz “Parabéns, bom trabalho!”.
Alguém que NÃO sofre da síndrome do impostor logo reconheceria a qualidade do próprio trabalho e agradeceria o justo elogio.
Porém, respostas típicas de um impostor podem ser: “Esse cliente estava fácil” ou “Não é nada, qualquer um conseguiria”.
Eis uma lição importante: todo sucesso, grande ou pequeno, deve ser celebrado.
Não abra mão do seu valor e das suas conquistas.
5. VOCÊ SE AUTO-SABOTA
Naturalmente sempre buscamos nossa própria felicidade, certo?
Principalmente nas duas áreas mais importantes da vida: relacionamentos e trabalho.
Como, então, explicar a autossabotagem?
Com muita exposição, vem o medo de não ser suficiente.
Portanto, inconscientemente, não pedimos uma promoção, não assumimos a liderança de um projeto, não nos voluntariamos para fazer a apresentação aos investidores.
Ou, se a coisa parece ir bem demais, chegamos atrasados para uma reunião importante, bebemos demais na noite anterior ao evento do principal cliente da empresa, ou falamos algo totalmente inadequado para o chefe.
Enfim, podemos julgar tudo isso mera coincidência, mas parece mais fácil ter uma desculpa na manga do que correr o alto risco de se ver na terrível posição de fracassado.
MULHERES OU HOMENS: QUEM SÃO OS MAIS AFETADOS PELA SÍNDROME DO IMPOSTOR?
“Quando contagiados pela síndrome do impostor, as pessoas não levam suas habilidades, conquistas e nem elas mesmas a sério. Se você não se levar a sério em qualquer campo da vida, muito provavelmente você não conseguirá os resultados que quer”.
Todd Herman – The Alter Ego Effect (2019)
O estudo original de Imes e Clance em 1978 considerava apenas mulheres por achar que este era um problema restrito a elas.
No entanto, diversos estudos posteriores foram descobrindo que tanto mulheres quanto homens vinham experimentando a síndrome com a mesma intensidade.
E curiosamente, o caso dos homens pode ser ainda mais preocupante.
Cuddy explica que embora os homens vivam a síndrome no mesmo grau que as mulheres, eles podem ser ainda mais oprimidos por ela por não conseguirem admiti-la.
Em outras palavras, eles carregam esse peso silenciosamente e dolorosamente. Principalmente aqueles que fogem do esteriótipo de homem assertivo e forte.
Sobre isso, vou dar meu próprio exemplo.
FELIPE: IMPOSTOR DESDE A ESCOLA
Durante a escola, eu sempre fui um aluno mediano. Afinal, minhas maiores habilidades não tinham muito valor. O que tinha, sim, muito valor era matemática, física, química e etc.
E parece que uma marca ficou, vou contar alguns casos curtos.
No meio da minha faculdade de hotelaria surgiu uma oportunidade de estudar 1 ano numa das 3 melhores escolas hoteleiras do mundo na Suíça.
As vagas eram reservadas para alunos sem matérias pendentes, com nível alto de inglês + certificação TOEFL e aprovação na prova específica. Francês também era desejável.
“Esquece, eu não sou para isso” foi o primeiro sentimento.
Que negativo, né? Nem tanto… Se eu achava que havia passado pela escola com mais sorte do que mérito, como eu podia pensar diferente?
Bom, deu tudo certo, mas o sentimento de impostor persegue a gente.
Nos primeiros dias de aula meu pensamento era: “o que eu estou fazendo aqui? Vão me descobrir”.
Em 2013, alguns anos depois do caso acima, resolvi fazer uma pós graduação numa escola de negócios brilhante em São Paulo.
O processo seletivo já evidencia um risco: serei aceito ou não?
Em outras palavras, será que eu tenho nível ‘escola de negócios brilhante’, ou será que meu nível é mais ‘escola de negócios qualquer’?
O perigo disso é que parece que as conquistas atrapalham em vez de ajudar.
Fechar Administração Financeira com 9,77 de média? O professor era bonzinho.
Ser elogiado por uma das melhores apresentações de Finanças da classe? Sorte.
Ser escolhido pelo próprios colegas para ser o líder do grupo? Azar.
E mesmo hoje parece que não aprendi…
Morando em Lisboa, estou planejando para 2020 um Doutorado em Administração numa escola de altíssimo nível.
Adivinha? Tenho me questionado.
Pois é, no fim das contas, eu também estou aprendendo com meu artigo.
A “SIMPLES” SOLUÇÃO PARA A SÍNDROME DO IMPOSTOR
A The School of Life apresenta uma solução simples para a síndrome do impostor: dar um “salto de fé”.
O que isso significa?
Isso significa simplesmente acreditar que a mente das outras pessoas trabalha mais ou menos dos mesmos jeitos que a nossa. Logo, outras pessoas também devem estar ansiosas e inseguras assim como nós.
Ou seja, a síndrome do impostor não é algo exclusivamente nosso, é algo que faz parte do ‘equipamento humano’.
Quem não se sente nervoso no primeiro dia de um novo desafio profissional? Quem não se sente inseguro antes de uma apresentação-chave?
Todos.
Enfim, a solução sugerida pela The School of Life é na verdade um conforto e um incentivo para dar esse salto de fé, pois todos somos humanos e nos sentimos assim.
“Ah, não sei… eu conheço gente que não parece sofrer nada disso”.
Então eu espero que as pessoas abaixo te inspirem um pouco.
3 GRANDIOSAS FIGURAS COM A SÍNDROME DO IMPOSTOR
1. SHERYL SANDBERG
Quando até a Chefe das Operações globais do Facebook tem problemas com a síndrome do impostor, qualquer um também pode ter!
Estou falando de uma mulher impressionante que lida diretamente com Mark Zuckerberg.
Palavras dela mesma no seu livro Plano B:
“Como muitos outros, tive que enfrentar dúvidas pessoais ao longo de toda a vida. Na faculdade, toda vez que fazia uma prova, tinha medo de não passar. Mesmo que não passasse vergonha e até quando me saía bem, ficava com a impressão de ter enganado os professores”.
Aliás, a história dela é forte e inspiradora, recomendo o livro.
(Falando nisso, algumas excelentes sugestões de livros).
2. AMY CUDDY
Pode isso? Professora de Harvard e autora de livro best seller se sentindo como uma fraude?
Pessoalmente, ela me parece justamente o oposto de uma fraude, alguém muito boa mesmo!
Em seu livro O Poder da Presença, ela conta que não só estudou como viveu a síndrome do impostor.
Cuddy conta que sofreu um acidente sério de carro no qual bateu a cabeça muito forte. Sua capacidade de processar informações havia sido reduzida e se formar na faculdade foi um desafio tremendo.
Enfim, ela chegou a pós-graduação, onde todo aluno de primeiro ano de doutorado em psicologia deve ministrar uma palestra de 20 minutos a um grupo de 20 pessoas.
Cuddy confessa: “Na noite anterior à palestra, eu estava tão dominada pelo medo que informei à minha orientadora que iria abandonar o curso – só para não ter de dar a palestra”.
Segundo ela, “eu não deveria estar aqui” era uma frase que passava repetidamente pela sua cabeça.
Felizmente a orientadora de Cuddy recusou totalmente essa opção e insistiu que ela falasse e continuasse falando e se desafiando sempre.
Ainda bem, pois o TED talk da Amy Cuddy é talvez o mais inspirador que eu já assisti.
No livro, ela ainda dá exemplos de pessoas que nunca poderíamos imaginar que sofreram com a síndrome do impostor, por exemplo: Denzel Washington, Maya Angelou e Mahatma Gandhi.
3. KATE WINSLET
É piada? Ganhadora de Oscar que não se sente boa o suficiente?
Segundo o jornal inglês The Telegraph, Winslet acordava de manhã antes das gravações e pensava “não posso fazer isso, sou uma fraude”.
O fato de alguém como Kate Winslet sentir os efeitos da síndrome do impostor é, no mínimo, motivador para nós.
CONCLUSÃO
Dê esse salto de fé.
Você não está sozinho ou sozinha nisso.
Todas as pessoas sentem o que você está sentindo.
Disfarçar, passar a vida inteira despercebido, tentar agradar o mundo, trabalhar demais, de menos…
Tudo isso pode até soar mais seguro, mas não é humano.
Porque ser humano é sentir.
Sentir medo, frio na barriga, ânsia, vontade de desistir, de chorar, de pensar ‘eu não deveria estar aqui’.
Isso é a vida vivida com tudo.
Então, por favor, não viva pela metade.
Não se sinta como um impostor.
Sinta-se, sim, integralmente humano.
Referências:
Amy Cuddy (2015) O Poder da Presença: Como a linguagem corporal pode ajudar você a aumentar sua autoconfiança. Editora Sextante.
Brené Brown (2012) Daring Greatly: How the courage to be vulnerable transforms the way we live, love, parent, and lead. Penguin Random House.
Sheryl Sandberg e Adam Grant (2017) Plano B: Como encarar adversidades, desenvolver resiliência e encontrar felicidade. Editora Schwarcz.
The School of Life. 100 Questions: Conversation Toolkit. theschooloflife.com.
The School of Life (2017) On Confidence. theschooloflife.com.
Todd Herman (2019) The Alter Ego Effect. HarperCollins Publishers.
https://forbes.uol.com.br/fotos/2017/01/9-coisas-que-pessoas-com-sindrome-do-impostor-fazem/
https://www.psicologiaviva.com.br/blog/sindrome-do-impostor/