O mundo é abundante.
Muito design, empatia e significado são necessários para diferenciar um produto hoje em dia.
Mas e quando falamos de pessoas?
Como se diferenciar num mundo com cada vez mais pós graduações, línguas, experiências e habilidades?
A resposta está no conceito de autenticidade.
No entanto, ela não é tão direta assim e para conseguir explicar precisamos percorrer o seguinte caminho:
- Introdução
- O desafio da autenticidade
- Quer ser autêntico? Não faça 4 coisas
- Extra: não podemos copiar os gigantes
- Conclusão
Bora começar?
INTRODUÇÃO
No livro A Whole New Mind, o autor Daniel Pink dividiu as eras da nossa sociedade de uma maneira que gostei bastante.
Eis a divisão:
Século 18: Era da Agricultura
- Habilidade predominante: física
Século 19: Era Industrial
- Habilidade predominante: técnica
Século 20: Era da Informação
- Habilidade predominante: intelectual
Século 21: Era Conceitual
- Habilidade predominante: emocional
Um dos argumentos de Pink é que o mundo é abundante e embora ele justifique isso de várias maneiras, esse exemplo ilustra bem: “somente sob uma oferta abundante é que tantas pessoas procurariam lindos cestos de lixo e escovas sanitárias”.
Fato.
Se as pessoas procuram algo a mais nos itens mais básicos e utilitários do mundo, estamos vivendo numa era de abundância.
Aí vem a importância da habilidade emocional.
Será que adianta produzir mais um produto e colocar na prateleira (diante de objetos cheios de design e significado)?
Será que vale a pena se gabar sobre seu extraordinário QI na empresa, quando seus colegas são mestres em empatia e persuasão (além de ter um QI muito bom)?
Será que compensa escrever um texto de qualquer jeito (diante da oferta de conteúdo do Google)?
Será que vale a pena seguir o caminho padrão da vida (com tanta gente trabalhando com propósito e paixão)?
PRECISAMOS DE UMA VANTAGEM COMPETITIVA
Portanto, em um mundo competitivo e abundante, o que as pessoas mais buscam é se diferenciar, o que as pessoas mais desejam é uma vantagem competitiva.
E embora buscar, cursar, capacitar, estudar, especializar seja muito importante, todo mundo faz isso.
Todo mundo fala um pouco de inglês, todo mundo tem uma pós, todo mundo sabe mexer no excel e etc…
O que quero dizer é que nada consegue ser mais diferenciador do que ser você mesmo.
Só você tem a sua história, os seus valores a sua combinação de pontos fortes e fracos, os seus talentos e paixões. E é essa justamente a sua vantagem competitiva.
Esse pacote é único. Só seu. Ninguém pode copiar!
Então, quando é que você vai criar coragem para olhar para dentro e buscar esse seu grande diferencial para se diferencial nesse mundo abundante?
No fim, a resposta para o título “como se diferenciar num mundo abundante” é: sendo você mesmo.
E para ser você mesmo, diferente dos outros artigos, vou te dizer 4 coisas que você NÃO deve fazer.
O DESAFIO DA AUTENTICIDADE
Ser autêntico é um desafio diário.
Muitas vezes, não somos quem somos, mas sim quem precisamos ser.
Por exemplo, num contexto social novo, no qual desejamos ser aceitos pelos outros, ou nos jogos políticos de uma organização onde queremos ser promovidos.
Contudo, respeitar a nossa natureza é fundamental para viver com mais coerência e com mais equilíbrio.
Autenticidade, em última instância, é felicidade, pois você está verdadeiro e alinhado com a sua essência.
Se você busca autenticidade, veja agora a lista de 4 coisas que você NÃO deve fazer:
QUER SER AUTÊNTICO? NÃO FAÇA 4 COISAS
1) SER AUTOIGNORANTE
Autoignorante todos somos, pois o nosso ‘eu’ muda sempre, logo é impossível saber tudo.
Sócrates resumiu isso na Grécia antiga quando cravou a frase “só sei que nada sei”, pois quanto mais se conhecia, mais percebia que nunca saberia tudo.
Portanto, esse primeiro elemento é mais que apenas não ser autoignorante, é não permanecer nesse estado.
Em outras palavras, busque se conhecer.
Desconsiderar o autoconhecimento, é desconsiderar o primeiro elemento proposto pelos célebres pesquisadores Kernis e Goldman na formulação da sua teoria sobre autenticidade.
“Quando os 75 membros do conselho da Escola de Negócios da Universidade de Stanford foram indagados para sugerir a habilidade mais importante para líderes desenvolverem, a resposta foi quase unânime: autoconhecimento”
George et al. (2007)
Se você busca autenticidade na vida, não aceite sua condição de autoignorante, entre em contato consigo mesmo.
2) PROCESSAR INFORMAÇÕES PARCIALMENTE
Você consegue ser imparcial ao olhar para si?
O processo de se conhecer nos leva a enxergar aspectos positivos e negativos sobre nós mesmos.
Quando preferimos não ver ou distorcer algum fato nosso, nós estamos processando informações valiosas de modo parcial. E isso, por fim, nos afasta de uma vida autêntica.
Ou seja, o caminho para a autenticidade é criar a habilidade para processar imparcialmente o que emerge no processo de autoconhecimento.
Antes de ser quem somos, é fundamental saber quem somos. E se somos parciais e distorcemos informações, não saberemos tão bem.
Não é fácil, essa estrada precisa de muita aceitação e compaixão.
3) NÃO SAIR DO LUGAR
Nada adianta você se conhecer muito bem e ter uma visão cristalina sobre si, se você não faz nada com isso na prática.
Não é possível ser autêntico fechado no seu mundo. Autenticidade demanda ação, prática, comportamento, situações, vida.
Por exemplo, você pode conhecer muito bem seus valores, mas o que testa e molda esses valores é o dia a dia.
Não sair do lugar te afasta de uma vida autêntica. Ou melhor, sem ação, nem sequer existe autenticidade.
Autenticidade é a operação desobstruída do seu verdadeiro ‘ser’ no dia a dia
Kernis (2003)
Essa estrada, por sua vez, precisa de coragem.
Coragem para viver com propósito, coragem para não agradar e coragem para ser você mesmo.
(Sugestão de leitura: E quando falta coragem?)
4) FECHAR-SE NAS RELAÇÕES COM OS OUTROS
Por fim, fechar-se nas relações com os outros também te afasta de uma vida autêntica.
Transparência e abertura são fundamentais, pois criam ambientes de confiança e intimidade, e isso promove a expressão genuína do seu ser.
Ser genuíno e íntegro (e não falso e fechado) nas interações com os mais próximos, faz com que as pessoas conheçam seu verdadeiro ser (e não uma persona criada).
Se abra, mostre quem você é. Essa transparência, além de benéfica para os relacionamentos é o caminho para a autenticidade
EXTRA: NÃO PODEMOS COPIAR OS GIGANTES
No último capítulo da biografia de Steve Jobs, o autor Walter Isaacson coloca uma longa citação do próprio Jobs.
E na última página do livro, no final dessa mesma citação, li algo que acredito muito e que tenho falado constantemente.
Veja as palavras originais de Jobs:
“O que me incentivava? Acho que a maioria das pessoas quer manifestar o seu apreço por ser capaz de tirar partido do trabalho feito por outros antes. Não inventei a língua ou a matemática que uso. Preparo pouco da comida que como, e nenhuma das roupas que visto. Tudo que faço depende de outros membros da nossa espécie e dos ombros sobre os quais ficamos em pé. E muitos de nós querem dar uma contribuição para nossa espécie também e acrescentar alguma coisa ao fluxo. Tem a ver com tentar expressar algo da única maneira que a maioria de nós é capaz de fazer – porque não somos capazes de escrever as canções de Bob Dylan, ou as peças de Tom Stoppard. Tentamos usar os talentos que temos para expressar nossos sentimentos profundos, para mostrar apreço por todas as contribuições feitas antes de nós e para acrescentar algo ao fluxo. Foi isso que me motivou”.
Reparou no argumento principal dele?
Ele disse que só podemos realmente contribuir para o mundo, ou “acrescentar algo ao fluxo”, sendo nós mesmos, pois temos uma maneira única de fazer as coisas.
Jobs acreditava na autenticidade.
Nós não podemos imitar Picasso ou copiar os Beatles, o que nós podemos fazer é aprender com a contribuição deles e executar do nosso jeito único.
Esse jeito é que tem o poder de transformar o mundo.
Eu, por exemplo, acredito que a minha melhor maneira de contribuir para o mundo é ensinando.
Sendo assim, eu não vou imitar Ken Robinson e falar em público com o mesmo senso de humor, muito menos copiar os argumentos de Clayton Christensen se um dia eu for escrever um livro de desenvolvimento pessoal.
O que eu posso fazer é aprender com esses gigantes e “acrescentar algo ao fluxo” da minha única maneira.
Essa maneira é eficaz, pois é autêntica, é sua, e vem lá da sua essência.
Tudo isso vem de encontro aos argumentos de Liderança Autêntica, teoria que estou pesquisando para a minha dissertação de Mestrado.
Cada pessoa é única e é justamente nessa distinção que está o tipo de líder ideal para você.
Peter Drucker, o “pai” da administração moderna, reforça essa ideia dizendo que não há uma personalidade ideal para liderar.
A conclusão dele é baseada em sua própria experiência de vida, foram mais de 50 anos atuando como professor, administrador, consultor, membro de conselho e voluntário.
Implícito nas palavras dele está a ideia de que temos que ser nós mesmos, afinal, quem iremos copiar se nenhum outro perfil de líder é o ideal?
CONCLUSÃO
Autenticidade é sobre descobrir a sua vantagem competitiva nesse mundo abundante em que vivemos.
Primeiramente, é se conhecer muito bem e acolher a sua história. É entender que essa história é o seu diferencial no mundo, afinal ninguém pode copiar isso.
Se uma empresa que descobre algo que ninguém pode copiar, usa isso com todas as forças. Então, por que você não faria o mesmo?
Por último, autenticidade é coragem para viver essa descoberta, para ser seu diferencial e para executar a sua vantagem competitiva.
Resumindo tudo, para isso acontecer lembre-se de não permanecer auto-ignorante nem ser parcial ao processar informações valiosas sobre si. Lembre-se também de não ficar parado no mesmo lugar e nem se fechar nos relacionamentos.
Tudo o que te afasta de uma vida mais autêntica, te afasta da sua essência, e de você.
Referências:
[ARTIGO] Peter Drucker (1996) Your Leadership Is Unique – Good News: There is no one “leadership personality”. Christianity Today International/Leadership Journal. Volume 17 (4), p. 54.
[LIVRO] Walter Isaacson (2011) Steve Jobs. Companhia das Letras.
[ARTIGO] George, B., Sims, P., McLean, A. N., & Mayer, D. (2007) Discovering Your Authentic Leadership. Harvard Business Review, February, 98-107.
[ARTIGO] Kernis, M. H. (2003) Toward a Conceptualization of Optimal Self-Esteem. Psychological Inquiry, 14 (1), 1-26.
[ARTIGO] Michael Kernis & Brian Goldman (2006) A Multicomponent Conceptualization of Authenticity: Theory and Research. Advances in Experimental Social Psychology, 38: 283-357.
[LIVRO] Daniel Pink (2006) A Whole New Mind: Why Right-Brainers Will Rule The Future. Riverhead Books.