fbpx
Home Autenticidade Liderança Autêntica: O que é e qual seu diferencial?

Liderança Autêntica: O que é e qual seu diferencial?

Escrito por Felipe Cotrim 16/01/2019
Liderança Autêntica: O que é e qual seu diferencial?

Um dos assuntos mais discutidos nos negócios: liderança.

Um assunto discutido desde os filósofos gregos: autenticidade.

Aí está, liderança autêntica.

O que resulta dessa conexão?

O que é e o que diferencia essa recente teoria?

Há algum valor para a minha vida pessoal?

Todas essas perguntas também já estiveram na minha cabeça.

A recente teoria de Liderança Autêntica foi o tema que escolhi para digitar a minha Dissertação de Mestrado e durante 1 ano eu me aprofundei bastante no tema.

E hoje eu pretendo explicar tudo para você. Veja o que temos pela frente:

  1. Introdução
  2. O que é Liderança Autêntica? (Os 4 Pilares)
  3. Qual o Diferencial do Estilo?
  4. A História de Daniel Vasella (Sim, é Verídica)
  5. Sua Liderança é Única
  6. 7 Frases Poderosas para Entender Melhor
  7. Conclusão

Vamos lá!

INTRODUÇÃO

Dentro da área de negócios, sempre me interessei pelos temas mais soft. Ou seja, liderança, equipes, motivação, inteligência emocional, habilidades interpessoais e etc.

Para ser exato, eu gosto daquela interseção entre negócios e psicologia. O livro Mindset, por exemplo, é escrito pela psicóloga Carol Dweck, mas sua aplicação nos negócios é incrível.

Mesmo assim, escolher um assunto para estudar por 1 ano não foi fácil. Eu não queria pesquisar qualquer coisa só para me formar e atualizar “mestre” no LinkedIn. Eu queria aproveitar os estudos para aprender muito. Eu queria evoluir.

Sendo assim, eu senti que estava no caminho certo quando encontrei o tema Liderança Autêntica e creio que você também vai gostar do que vai ver.

Frases como essa ficaram na minha cabeça: o diferencial dos líderes veio da história de vida de cada um deles, e não de um estilo específico.

Ou ainda: um dos pilares da teoria é o autoconhecimento, portanto trata-se de um líder que conhece suas potencialidades e limitações.

Enfim, não parecia a balela superficial sobre como “fabricar” um bom líder, muito menos sobre como imitar uma série de comportamentos aleatórios de outras pessoas.

Era diferente, parecia algo mais profundo e mais sustentável. Um caminho longo e eficaz, mas que nem todos estão dispostos a percorrer.

Para mim, sempre foi fascinante entender a raiz das coisas, então gostei logo de cara, principalmente quando vi as 4 bases que sustentam a teoria.

O QUE É LIDERANÇA AUTÊNTICA? (OS 4 PILARES)

Basicamente, o conceito surgiu como resposta aos escândalos corporativos e éticos causados por empresas como Enron, Tyco e Worldcom nos Estados Unidos.

Era a busca por um líder mais evoluído intrinsecamente, mais transparente, democrático e ético, é claro.

Por volta dos anos 2000, estatísticas mostravam as pessoas extremamente desconfiadas (com razão) em relação aos grandes líderes. O sentimento que pairava no ar, principalmente nos EUA, era de inconformismo e espanto diante dos escândalos expostos.

Foi então que acadêmicos e executivos, inspirados pelos conceitos de autenticidade, começaram a desenhar o que viria a ser chamado de Liderança Autêntica.

O pesquisador William Gardner define a teoria da seguinte forma:

A liderança autêntica é uma forma genuína de liderança onde o líder se apóia principalmente sobre 4 pilares:

  1. Autoconhecimento (self-awareness) – Entende sua história de vida, reconhece suas forças, limitações e emoções. Tem clareza do seu norte e de seus valores. Portanto, vive com propósito e sabe onde quer chegar.
  2. Processamento Equilibrado (balanced processing) – Aceita feedbacks positivos e negativos, e toma decisões de maneira aberta e equilibrada, o que gera consistência e coerência na mentalidade de toda a organização;
  3. Transparência (transparency) – Compartilha pensamentos e emoções com transparência, comunica-se abertamente e dessa forma constrói confiança e relacionamentos mais duradouros;
  4. Perspectiva Moral Interna (internal moral perspective) – Garante fortes padrões éticos em suas ações.

Parece um ótimo líder, concorda?

Eu desde o começo achei que sim, me identifiquei principalmente com a parte do autoconhecimento, acredito ser essencial nos turbulentos dias de hoje.

QUAL O DIFERENCIAL DO ESTILO?

Bill George, atual professor da Universidade de Harvard e considerado “pai” da teoria de Liderança Autêntica, entrevistou um seleto grupo de líderes e diz que entende por que mais de milhares de estudos e muitos anos nunca conseguiram definir um perfil ideal de líder.

Nessas entrevistas, nenhum traço, habilidade ou estilo foi encontrado, pois a liderança surgiu da história de vida de cada um deles. Ou seja, tentando entender suas essências, esse seleto grupo de líderes descobriu o propósito de sua liderança, e ser autêntico apenas tornou-os mais eficazes.

Essas descobertas são extremamente motivadoras, pois dizem que para ser um bom líder não é preciso copiar ninguém, basta ser você mesmo.

George ainda cita Jack Welch, admirável e genial líder da GE. Naquela época, todos queriam ser como Welch e isso estava virando um problema, pois simplesmente emular o comportamento dele dificilmente gerava resultados positivos.

Cada pessoa é única, e é justamente nesta distinção que está o tipo de líder ideal para você.

Portanto, o diferencial da Liderança Autêntica é ser quem você essencialmente é.

Simples, né?

Infelizmente não é tão simples assim, isso envolve conhecer a nossa história, entrar em contato com nossos aspectos positivos e também negativos, e ter compaixão para aceitar tudo o que surgir.

O exemplo abaixo nos dá uma noção dessa dura caminhada.

A HISTÓRIA DE DANIEL VASELLA (SIM, É VERÍDICA)

Daniel Vasella, ex-CEO da gigante farmacêutica Novartis, tem umas das histórias mais difíceis que o professor Bill George já investigou. Ele passou pelas piores situações durante a infância e chegou ao topo do mundo corporativo acumulando méritos e reconhecimentos.

Aos 5 anos de idade, Vasella sofreu de asma. Aos 8, tuberculose seguida de meningite, o que fez seus pais o deixarem 1 ano em um sanatório distante, visitando-o raras vezes. Quando ele tinha 10 anos de idade, sua irmã de 18 morreu depois de lutar 2 anos contra um câncer. 3 anos depois disso, seu pai morreu durante uma cirurgia. Toda essa instabilidade fez a mãe se afastar da cidade para buscar salários maiores e isso deixou Vasella largado em casa fazendo festas estranhas regadas à álcool para conhecidos.

Quantos suportariam 20 anos de doenças, desprezo dos pais, mortes e más influências? Nem todos! Mas a virada de Vasella começou assim.

Aos 20 tudo mudou depois de uma namorada, entrou para a escola de Medicina e por meio de sessões de psicoterapia conseguiu extrair sentido de sua triste história de vida. Aplicou para altos cargos em grandes empresas e passou 4 anos trabalhando nos EUA. Durante uma fusão de sua empresa com outra, ele se tornou o CEO da recém formada Novartis.

Mesmo novo e com pouca experiência, ele floresceu como líder. Motivado pela sua história, ele visualizou um futuro brilhante para ajudar a salvar vidas, e desenhou uma cultura nova baseada em compaixão, competência e competição. Tudo isso levou a Novartis ao ápice global farmacêutico e Vasella a uma posição de líder admirado.

Perguntado sobre o motivo que o levou a liderar tão bem durante a incrível ascensão da empresa, ele respondeu a sua história de vida.

Se cada um de nós tem uma história de vida, toda liderança é única. Pelo menos é o que Peter Drucker diria, como veremos a seguir.

SUA LIDERANÇA É ÚNICA

Em 1996, Peter Drucker, considerado o “pai” da administração moderna, escreveu um pequeno, mas poderoso texto que tive acesso recentemente.

O título é: Sua Liderança é Única.

E logo abaixo, o subtítulo diz: Boas Notícias: Não existe uma “personalidade de liderança”.

Resumidamente, o argumento dele é que trabalhando por mais de 50 anos com empresas de todos os tipos e portes, nos papéis de professor, administrador, consultor, membro de conselho e voluntário, ele descobriu que não existe uma personalidade ideal para liderar, não há estilo certo de liderança ou traços julgados corretos.

Você se tranca no escritório quando a crise aperta? Drucker viu desses líderes.

Você grita e ameaça todo mundo? Drucker também viu desses.

Você é tímido? Pouco importa.

Aliás, a maioria das empresas excepcionais estudadas por Jim Collins em seu livro Empresas Feitas para Vencer (Good to Great), tinham um líder tímido por trás de resultados nada tímidos.

Por sinal, nas recomendações de Drucker, ele diz uma coisa muito certa:

“Um líder efetivo não é alguém amado e admirado. Popularidade não é liderança. Resultados são”.

Por exemplo, Steve Jobs teria tudo para ser considerado um péssimo líder. Ignorava milhares de funcionários (seguidores) fiéis, dizia que o trabalho dos outros estava uma merda, não tinha um pingo de humildade e mentia constantemente.

Mas os resultados que ele trouxe provam o contrário (e também o legado de seguidores fiéis que deixou).

No fim das contas, a mensagem principal de Drucker é simples e está no próprio título: sua liderança é única.

O que está implícito nas palavras dele é que o diferencial da sua liderança é ser você mesmo.

Afinal, se não há um estilo ideal para liderar, não há a quem copiar.

Esse grande guru chamado Peter Drucker não defendia a Liderança Autêntica em si, mas parece que não houve muito como escapar.

Qual a melhor maneira de liderar?

A sua.

O que não significa que fazer qualquer coisa dará certo.

Mas é aquela que vem dos seus pontos fortes (e até fracos). Aquela que vem da sua história. Aquela que vem dos seus valores e da sua essência como pessoa.

Essa é a melhor maneira de contribuir para o mundo.

7 FRASES PODEROSAS PARA ENTENDER MELHOR

Se ainda não ficou totalmente claro, separei 7 citações poderosas sobre Liderança Autêntica para esclarecer de maneira um pouco mais dinâmica:

UM

“Líderes autênticos demonstram paixão pelo seu propósito, praticam seus valores consistentemente, e lideram com seus corações e cabeças. Eles formam relacionamentos significativos, duradouros e têm a autodisciplina para trazer resultados. Eles sabem quem são” (George et al., 2007: 99).

DOIS

“Tente liderar como outra pessoa, por exemplo Jack Welch ou Michael Dell e você irá fracassar. Liderança demanda a expressão de nosso ‘eu’ autêntico” (Goffee and Jones, 2005).

Jack Welch, Michael Dell, Steve Jobs, Jorge Paulo Lemann, Abilio Diniz… Não, nós não podemos e não devemos copiá-los.

TRÊS

“Depois de anos estudando líderes e seus traços, eu acredito que liderança começa e termina com autenticidade. É ser você mesmo, ser a pessoa que você foi criado para ser” (George, 2003: 11).

Seu maior diferencial é ser você mesmo. Afinal, ninguém pode ser você.

QUATRO

Autoconhecimento é o primeiro elemento que forma um líder (Daniel Goleman, 2004).

E também é o primeiro pilar de Liderança Autêntica.

Talvez não por ser mais importante, mas por ser fundamental.

CINCO

“Quando os 75 membros do conselho da Escola de Negócios da Universidade de Stanford foram indagados para sugerir a habilidade mais importante para líderes desenvolverem, a resposta foi quase unânime: autoconhecimento” (George et al., 2007: 101).

SEIS

“Administrar a vida interior não é fácil e para muitos de nós, é o nosso desafio mais difícil” (Goleman et al., 2001).

Esses desafios incrivelmente difíceis tem um nome: crucibles. O lado bom é que eles têm um papel essencial na liderança acima da média.

SETE

“Nós definimos Liderança Autêntica como um padrão de comportamento do líder que se baseia e promove capacidades de psicologia positiva e clima ético positivo, para gerar autoconhecimento, perspectiva moral interna, processamento equilibrado de informações e transparência relacional da parte de líderes trabalhando com seguidores, criando autodesenvolvimento positivo. (Walumbwa et al., 2008: 94).

Sim, essa definição é muito chata, mas como é uma das mais aceitas academicamente achei que devia colocar =)

#sorry

CONCLUSÃO

Se você entende um pouco sobre o assunto, certamente verá semelhanças desse tipo de liderança com as lideranças transformacional, ética e servidora. E não há problema.

Não existe teoria mais correta ou melhor. Existem diferentes momentos de pesquisa ao longo da história, diferentes indústrias e diferentes pessoas.

Liderança Autêntica é uma teoria muito recente, ainda em fase de consolidação. Muito se avançou, mas muito ainda falta.

Meu objetivo ao digitar uma Dissertação de Mestrado sobre esse tópico é, além de contribuir minimamente para o tema, me desenvolver como pessoa.

Só me desenvolvendo como pessoa é que poderei desenvolver outras pessoas.

Por sinal, essa é a minha razão: aprender para ensinar e ensinar para aprender.

Bom, mas uma coisa por vez…

Hoje, meu objetivo era detalhar Liderança Autêntica e torcer para que você fique com a essência:

Cada pessoa é única e é justamente nessa distinção que está o tipo de líder ideal para você.

Referências:

[ARTIGO] Craig, N. (2017) Authentic Leadership Insights. Authentic Leadership Institute. www.authleadership.com

[ARTIGO] George, B.; Mayer, D.; McLean, A. e Sims, P. (2007) Discovering Your Authentic Leadership. Harvard Business Review.

[LIVRO] George, B. (2003) Authentic Leadership: Rediscovering the Secrets to Creating Lasting Value. Jossey-Bass, San Francisco.

[ARTIGO WEB] https://www.cleverism.com/authentic-leadership-guide/

[ARTIGO] Goleman, D., Boyatzis, R., & McKee, A. (2001) Primal Leadership: The Hidden Driver of Great Performance. Harvard Business Review, Breakthrough Leadership December, 41-51.

[ARTIGO ACADÊMICO] Kernis, M. H. (2003) Toward a Conceptualization of Optimal Self-Esteem. Psychological Inquiry, 14 (1), 1-26.

[ARTIGO] Goleman, D. (2004) What Makes a Leader? Harvard Business Review, January, 1-11.

[ARTIGO ACADÊMICO] Walumbwa, F. O., Avolio, B. J., Gardner, W. L., Wernsing, T. S., & Peterson, S. J. (2008) Authentic Leadership: Development and Validation of a Theory-Based Measure. Journal of Management, 34 (1), 89-126.

[ARTIGO] Goffee, R. & Jones, G. (2005) Managing Authenticity: The Paradox of Great Leadership. Harvard Business Review, December, 1-9.

[ARTIGO] Drucker, P. F. (1996) Your Leadership Is Unique. Christianity Today International/Leadership, XVII (4), 54.

[ARTIGO] Warren Bennis e Robert Thomas (2002) Crucibles of Leadership. Harvard Business Review.

Você também pode gostar